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Vinhos premiados colocam Minas na rota do enoturismo

Sul e Serra da Mantiqueira são as regiões mais lembradas quando o assunto é degustar uma boa bebida com sotaque mineiro
Vinhos premiados colocam Minas na rota do enoturismo
Minas já soma 100 produtores de vinhos com mais de mil hectares de vinhedos registrados | Crédito: Reprodução / AdobeStock

Viajar pelo mundo degustando os melhores vinhos, harmonizados com comidas típicas, conhecer vinhedos históricos, a produção das mais importantes vinícolas, e ainda aproveitar a sombra dos parreirais é o sonho de muita gente e movimenta o pujante mercado global do enoturismo.

Segundo estimativas da consultoria Future Market Insights Global, em 2023, essa modalidade movimentou US$ 85,1 bilhões ao redor do mundo, e deve chegar a US$ 292,5 bilhões em 2033.

No Brasil, a maior produção e os roteiros de enoturismo mais antigos estão concentrados na região Sul, especialmente Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Minas Gerais, porém, vem despontando como um novo destino para os amantes do vinho.

A produção de vinhos de mesa no Sul de Minas remonta a meados do século passado, mas o desenvolvimento de uma nova técnica, a da dupla poda, há cerca de 20 anos, permitiu que o Estado passasse a produzir também vinhos finos. 

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Agora, embalado por reconhecimentos dentro e fora do Brasil, os vinhos mineiros começam a gerar também turismo. O potencial econômico da produção de vinhos e o enoturismo em Minas já ganham atenção especial do poder público. A Comissão de Política Tributária da Secretaria de Estado de Fazenda (SEF) aprovou, no início de abril, o Tratamento Tributário Setorial (TTS) voltado a fabricantes de vinhos.

Enoturismo
Enoturismo em Gonçalves inclui uma experiência completa | Crédito: Divulgação

De acordo com o secretário de Estado de Fazenda, Luiz Claudio Gomes, com a redução da carga tributária para 3%, o produto local ficará ainda mais competitivo, gerando mais empregos.

“A cadeia vinícola atrai o turismo, dinamiza o setor hoteleiro, de viagens, de transporte e aumenta o comércio. Com certeza, trará desenvolvimento e aumentará a renda do povo da região produtora”, ressaltou Gomes, ao fazer o anúncio.

Dados da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) mostram que, em 2020, o Estado contava com cerca de 50 fabricantes. Hoje, já soma 100 produtores de vinhos com mais de mil hectares de vinhedos registrados.

Ainda conforme a Epamig, quando toda a área plantada estiver em produção, serão cerca de 4 mil toneladas de uva e 2,4 milhões de litros de vinho. A estimativa é de que o mercado movimente R$ 120 milhões por ano.

O Sul de Minas e a Serra da Mantiqueira são, historicamente, as regiões mais lembradas quando o assunto é degustar um bom vinho com sotaque mineiro. Mas isso não quer dizer que não exista muita inovação por lá.

Em Gonçalves, no Sul de Minas, já é possível vivenciar experiências únicas com degustações todos os finais de semana. O primeiro vinhedo da cidade é resultado de uma parceria entre o Restaurante Sauá, a Pousada Bicho do Mato e a Vinícola Artesã. Além dos rótulos, o público também tem a oportunidade de degustar algumas das variedades de queijos produzidos na região da Mantiqueira.

Segundo o chef e um dos idealizadores da rota, Vitor Pompeu, além das degustar as harmonizações com diferentes vinhos, os amantes do enoturismo também poderão realizar uma visita ao vinhedo e à sala de maturação dos queijos. Tudo a 1.650 metros de altitude em relação ao nível do mar.

“Estou em Gonçalves há 22 anos com o restaurante e a pousada. Compreendo a identidade da Mantiqueira que é representada pelos produtos tradicionais, como o café, e também pelos novos, como azeites, cogumelos e também os vinhos, que estão em um ótimo momento. A artesã faz um trabalho de excelente qualidade. A ideia da rota veio logo que conheci os proprietários”, relembra Pompeu.

A Vinícola Artesã implantou seu primeiro vinhedo, em 2016, na cidade de São Gonçalo do Sapucaí, na mesma região. A partir de 2020 a produtora colheu sua primeira safra comercial. Ela comercializa vinhos jovens a partir das uvas Syrah e Sauvignon Blanc e também dois rótulos premium que passam em barrica de carvalho francês: o Íngreme da uva Syrah e o Rococó, que é um blend de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc.

Desde então, vem colecionando prêmios, como medalha de ouro no Descorchados e medalha de prata na Decanter, uma referência para os apaixonados por vinhos. E são justamente os vinhos premiados que são degustados durante a visitação.

Segundo a enóloga e sócia-proprietária da Vinícola Artesã, Roberta Cavalcanti, as condições naturais de São Gonçalo do Sapucaí permitem a produção de vinhos, mas um dos desejos da empresa era também produzir espumantes. E foi por isso que compraram a área em Gonçalves.

“Formamos o primeiro vinhedo de São Gonçalo e hoje são quase 10. Em Gonçalves repetimos o pioneirismo e já recebemos consultas de gente querendo produzir aqui. Esse é o nosso sonho, expandir o nosso produto para criar uma verdadeira rota, reunindo produtores de vinhos, azeites, queijos, cafés, restaurantes, meios de hospedagem, e outros empreendimentos que fomentem essa cultura e gerem trabalho na nossa região”, pontua Roberta Cavalcanti.

Vinhos surpreendentes criam enoturismo no Norte de Minas

A Serra do Espinhaço é reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Reserva Mundial da Biosfera. A região conta com atrativos como as riquezas naturais, parques estaduais, cachoeiras, espécies endêmicas – encontradas apenas na região -, aliados à cultura mineira e um deles é o vinho.

Parte da Serra atravessa o Norte de Minas e é nessa região que o município de Grão Mogol desenvolve uma política de fomento ao turismo. Tudo começou há três anos, com a implantação de um plano de desenvolvimento e valorização do turismo na cidade.

Um dos empreendimentos que incrementaram o turismo em Grão Mogol foi a Vinícola Vale do Gongo, que oferece passeios agendados, com jantar harmonizado e degustação do vinho produzido na região.

Para o proprietário da vinícola, Alexandre Damasceno Rocha, poucas são as cidades, como Grão Mogol, que podem, ao mesmo tempo, oferecer história, arquitetura, cultura, gastronomia e belezas naturais exuberantes.

“O enoturismo é a atividade que mais se desenvolve no mundo. Os países e regiões que souberam investir no enoturismo desenvolveram uma virtuosa cadeia que alimenta um forte mercado em crescimento: hotelaria, gastronomia, passeios em contato com a natureza, dentre outras atividades. Tudo isso é possível aqui. Proporcionamos aos visitantes uma sofisticada experiência enogastronômica e sensorial que articula e envolve tudo que há de melhor no terroir da Cordilheira do Espinhaço”, assegura Rocha.

Conforme o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Grão Mogol, Ítalo Mendes, o fomento ao turismo é uma estratégia para o crescimento socioeconômico da cidade. O emprego formal no turismo cresceu 50% em dois anos.

“Buscamos capacitação junto a parceiros como o Sebrae e já começamos a colher frutos. Nos fins de semana a cidade está sempre cheia. A plantação de uva virou um projeto de produção de vinhos e de enoturismo. Vivemos um ciclo de prosperidade com a abertura de restaurantes e meios de hospedagem. A ideia é trabalharmos o turismo de base comunitária no futuro e crescer sustentavelmente”, completa Mendes.

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